segunda-feira, 24 de outubro de 2011

E no fim...

Nunca veria seus filhos! Nem sua amada e dedicada esposa. Tampouco deixaria o legado de sua existência. Seus livros não seriam publicados e todos os anos de estudo que pensara ter oferecido à melhora de comunidade seriam em vão.

Seu único consolo era a possibilidade de que houvesse um motivo digno que justificasse seu ato. Ao menos, vários dos seus superiores – que certamente eram sábios seres – lhe imputaram a idéia de que deveria fazê-lo. Estariam seus mentores equivocados? Difícil crer que justamente ele estava com a razão quando todos ao seu redor gritavam em uníssono o contrário.

Tudo soa tão estúpido e sem sentido! Era apenas uma única pessoa que nunca se destacaria em nada. Então, para quê? Por que ele? Haveria algo de especial para ter sido escolhido e treinado ou justamente por se tratar de alguém tão comum, perfeitamente descartável, a real causa para tal?

Enquanto aguardava o momento exato, começou a raciocinar sobre as implicações de sua atitude. Nunca se permitiu uma pausa para que, vagarosamente, a analisasse. Apenas seguia em frente sem contestar o que lhe afirmavam. Não por preguiça ou burrice, mas por inércia que o impedia de enxergar o que poderia surgir no futuro. Sua vida era apenas uma seqüência de ações, não sabia como seria o final ou sequer se este existia. Como se desse um passo atrás do outros sem tomar consciência de onde ia. Entregavam-lhe a munição para que atacasse e, enquanto se considerava perdido, acreditava piamente em seguir as ordens sem contestá-las.

Agora, do outro lado da rua, havia um colégio repleto de crianças. O som de risadas infantis se mesclava ao de buzinas de carros presos no trânsito e ao de uma mulher que, de uma janela, berrava ao marido para que não voltasse muito tarde. Alheia a tudo isso, uma menina lia calmamente um livro na cafeteria ao lado de onde estava. Um gato, atraído pelo cheiro de uma barraca de peixes, cruza seu caminho o ignorando completamente. Era como se fosse invisível... tal como sempre se sentira.

Nunca teria um gato! Ou livro publicado, carro, esposa ou crianças. Nada com que sonhara se concretizaria nesta sua única vida. Mahmoud segurou a corda que conectava aos explosivos debaixo de sua roupa e ao ouvir o sinal de fim das aulas ele...