segunda-feira, 17 de junho de 2013

VIVA A SALADA!!!

Até agora estou sem chão!!!

Sabia que a manifestação de São Paulo tinha sido pacífica em sua maior parte e que houvera exagero da polícia, mas creio que no fundo ainda acreditava que havia no meio um grupo que deu o estímulo a mais para que fossem atacados. Acho que buscava uma lógica ao ataque!!!

Então, fui à estação São Cristóvão no domingo do jogo México x Itália. Não é a primeira vez que protestava e nunca passei por problema algum (talvez por isso o choque). Sempre foi muito tranquilo, quem era contra não participava e raramente se via sinal da polícia. Mas dessa vez foi muito diferente!!!

Cheguei um pouco tarde, pouco depois das 15hs, e todos estavam de joelhos gritando SEM VIOLÊNCIA ou “Você fardado, também é explorado” ou até mesmo cantando o hino nacional. Por um bom tempo ficamos apenas assim. Diferente do que pode ter acontecido em São Paulo (ñ estava lá), não via nem sinal de bandeiras partidárias... ainda bem!!! A maioria das pessoas era jovem, mas na passarela até o metrô e o trem, havia em meio a curiosos e torcedores, pessoas de todas as idades gritando também a favor dos manifestantes.

Para aqueles que não conhecem o Rio, a estação de São Cristóvão fica a cerca de 1km da entrada mais próxima do Maracanã (informações do próprio Metrô Rio, mas vale a pena checar). Ao chegarmos perto do viaduto Oduvaldo Cozzi, foi perguntado qual caminho seguir e por maioria foi escolhido subir o viaduto. A polícia poderia neste momento ter dito que não poderia... teria até a justificativa de proteger os torcedores, mas optaram pelo silêncio. Quando todos estavam repetindo SEM VIOLÊNCIA foi que as primeiras bombas de gás caíram. Todos saíram correndo e a maioria subiu a rampa do metrô.

Chegando lá, muita gente nervosa ainda correndo, alguns tentando entrar no metrô e no trem para escapar e tudo fechado. Neste ponto, havia alguns policiais militares que pediam calma, para não correr e que cobrissem o rosto. Os próprios PMs sofreram com o efeito do gás e tentavam se proteger, mas acima de tudo, tentavam acalmar quem passasse... aliás, abençoados sejam esses!!! A minha sorte, e a do grupo que estava comigo, é que estávamos com lencinhos com leite de magnésia.

Como não era possível todo mundo ficar em cima da passarela, alguns tentaram voltar ao ponto de partida aonde eram recebidos com mais bombas, ou desciam para o outro lado onde estava a Quinta da Boa Vista. Eu fiz parte deste segundo grupo. Ficamos em frente à Quinta para nos reagruparmos e decidirmos se voltávamos para o outro lado (o que era muito difícil porque só havia a opção da passarela) ou tentávamos subir o outro viaduto. Ao longe, víamos a aproximação de carros e motos e a cavalaria e helicópteros circundavam (estes estavam desde o início). Quando já tínhamos retomado um grupo maior e voltamos a cantar o hino e gritar SEM VIOLÊNCIA, novas bombas o que fez boa parte buscar refúgio dentro do parque.

Um guardador de carros nos avisou que estavam fechando o parque e que era melhor ir mais para dentro... e foi exatamente o que aconteceu. Quem não conseguiu entrar correu para outra entrada se foi seguida pela tropa de choque. E quem entrou ficou chocado ao ver lançarem bombas de gás DENTRO do parque. Crianças ficaram assustadas, até quem estava só passeando com cachorro saiu correndo. Foi uma cena realmente assustadora. Até agora não acredito nos meus olhos. TACARAM BOMBAS DE GÁS DENTRO DO PARQUE CHEIO DE FAMÍLIAS. Os manifestantes não bloqueavam rua alguma, nem depredavam nada, nem reagiam à polícia.... POR QUÊ????

um dos itens arremessados dentro da Quinta
Só conseguimos voltar depois das 17hs quando já estava reaberto o portão principal e grupos pequenos passavam devagar. Muitos ficaram no Museu Nacional e outros voltaram ao “campo de batalha”. O metrô continuava fechado então tivemos que atravessar a outra passarela em direção à estação Afonso Pena. Passando por lá a visão era realmente assustadora: um contingente policial nunca visto!!! Carros, cachorros, cavalaria, uma equipe enorme!!! E eis que surgiu o carro do BOPE!!! Ainda na passarela, um homem gritava “Por que não tem essa tropa toda no Réveillon nem no Carnaval??? Arrastão atrás de arrastão!!!” Também não usam toda esta tropa para retirar os crackudos das ruas e avenidas cariocas. Alguns poucos da polícia municipal ainda removem quando são poucos, mas existem certos locais em que não é mais possível circular.

Continuamos nosso caminho, ainda preocupados com quem ficou. O que se passou depois, não testemunhei.

É muito triste tudo isso se passar neste momento em que vivemos! Muitos criticam os manifestantes dizendo que não são patriotas e etc... (sinto um ar de “AME-O OU DEIXE-O”), mas a verdade é que em qualquer lugar civilizado do mundo há protestos mesmo em grandes eventos. Toda semana há alguma greve ou manifestação na França e não ocorre esta repressão. Acham que todos estavam satisfeitos na Copa da Alemanha???  A diferença foi a resposta policial! Antes de ir para São Cristóvão, achava que poderíamos ser como a Alemanha, mas me vi na Turquia!!!

Tenho um enorme orgulho da minha cidade e de meu país!!! Comemorei com meus colegas de trabalho quando o Rio foi eleito para sediar as Olimpíadas. Adoro futebol e seria maravilhoso assistir a uma final aqui em casa! Mas sou contra estádios superfaturados, contra o novo trajeto do metrô que não beneficia praticamente ninguém e contra os mandos e desmandos da FIFA.

O que mais me espanta é a truculência policial e a maneira canalha e covarde como os políticos reagem a essa manifestação. Eles sabem que agora não é como antes! Trabalhei por mais de um ano na Cinelândia, o grande palco de manifestações de todo tipo e a Rio Branco sempre foi trajeto oficial de passeatas ou grupos políticos em época de eleições (por vezes, muito antes delas). Nunca vi esse tipo de repressão!!

Estão muito acostumados com os carneirinhos que apesar de toda a corrupção, de uma saúde pública de merda, de transporte caro e de merda, de educação pública às moscas, acha que não se consegue mudar. Mas ao ver grupos se levantando em várias cidades em um momento sensível, resolveram atacar com todas as forças para gerar o medo e evitar que a festa seja ofuscada e que sua plutocracia tenha um fim. Nunca imaginei estar em uma ditadura, mas vejo que os porcos devagarinho destruíram nossa tão batalhada democracia!